Cobrar por hora vale a pena?
Eu contei aqui qual é meu método de precificação e você deve ter percebido que a ideia de valor hora serve como base pra depois fazer ajustes e não como verdade absoluta. No fim, eu raramente cobro exatamente o valor hora que estimei no começo. E nunca (ou quase nunca, com exceção de casos extremos) cobro pelas horas trabalhadas. Hoje vou te contar o porquê e mostrar números que provam que não vale a pena.
1. Se você é eficiente, deveria ganhar mais por isso e não menos
Em outras palavras, se eu crio uma identidade visual em 5h enquanto a concorrência leva 10h, eu deveria ganhar o dobro e não metade. Eu sou muito mais eficiente, sem deixar de ter qualidade. Eu resolvo o problema muito mais rápido, sem dor de cabeça, chego no resultado de forma mais fácil. Isso é o valor agregado do meu trabalho, algo que está embutido no meu orçamento mas não é palpável. Esse fator te faz merecer um pagamento melhor. Agora, se eu cobrar por hora, esse conceito vai por água abaixo porque, nesse cenário, trabalhar menos = receber menos.
2. Você nunca vai enriquecer cobrando por hora
O dia tem 24h e isso nunca vai mudar. Pra ganhar bem cobrando por hora você tem duas opções: trabalhar muitas horas por dia ou cobrar um valor hora alto. A primeira opção, não recomendo. A segunda opção, arriscado. Imagina se eu colocasse nas minhas propostas que cobro R$500, R$600, R$800 por hora. Qual a chance de alguém me contratar? A gente sabe que quem ganha R$800 por hora é um médico, e que tipo de designer acha que pode ganhar tanto quanto um médico, não é?! Números são algo muito fácil de comparar – valor agregado não.
3. Não importa quantas horas eu trabalhe desde que resolva o problema
Nenhum dos meus clientes pede um relatório de horas trabalhadas. Nenhum deles sequer me pergunta quanto eu trabalhei. Sabe por que? Porque não importa. Que diferença faz se eu trabalhei 2h ou 20h? O que importa é o que eu entrego, o resultado do meu trabalho. O cliente paga pelo resultado e não pelo processo. Se eu trabalhei de casa, da praia ou da China também não importa. Se ele ficar satisfeito com o resultado, ele não vai dar a mínima pra quanto você ganhou por hora – e provavelmente vai ficar felizão se você resolver tudo antes do prazo imaginado.
4. Os números não mentem
Pra ter certeza se vale a pena ou não cobrar por hora, você precisa registrar suas horas de trabalho e manter o mínimo de organização de quanto você cobrou de cada cliente. Aqui eu mostro números reais de um controle que eu mantenho pra fazer esse rastreamento.
Horas trabalhadas / Valor cobrado / Valor hora cobrado / Valor por hora
→ 17,5h / R$2.000 / R$114 / R$4.900
→ 30h / R$5.850 / R$195 / R$8.400
→ 50h /R$16.000 / R$320 / R$14.000
→ 6,4h / R$5.500 / R$859 / R$1.792
→ 4,5h / R$11.000 / R$2.444 / R$1.260
→ Horas trabalhadas: A primeira coluna mostra quantas horas eu trabalhei de fato em cada projeto (e isso só consigo saber porque uso um rastreador de produtividade).
→ Valor cobrado: A segunda coluna mostra o valor que eu cobrei de fato, que o cliente pagou.
→ Valor hora cobrado: A terceira coluna mostra quanto eu ganhei por hora, dividindo o valor total pelas horas trabalhadas.
→ Valor por hora: E a última coluna mostra quanto eu ganharia se tivesse cobrado por hora, proporcional às horas trabalhadas (considerando meu valor médio de R$280/hora).
A primeira linha é referente a um projeto onde fui acionada para ser facilitadora gráfica num workshop e o orçamento era esse, não tive como negociar. No fim, acabei trabalhando fora do workshop também, antes e depois, pra preparar e finalizar os materiais. Resultado: acabei ganhando R$114 por hora, que é menos que meu valor mínimo. Se tivesse cobrado por hora, teria ganhado R$4.900 invés de R$2.000. Conclusão: cobrar por hora valeria a pena.
A segunda linha é referente a um caso que mencionei aqui (o caso 1). Eu trabalhei 30h e ganhei R$195/hora, que é só um pouquinho acima do meu valor mínimo. Se tivesse cobrado por hora, teria recebido R$8.400 e não R$5.850. Conclusão: cobrar por hora valeria a pena.
Esses dois primeiros casos são exceções e só coloquei aqui para comparar. Na maioria das vezes, o cenário é mais parecido com os casos abaixo.Na terceira linha, trabalhei 50h e recebi R$16.000. Nesse cenário, acabei ganhando R$320/hora. Se tivesse cobrado aquele valor de R$280 por hora, teria recebido menos, ou R$14.000. Conclusão: cobrar por hora não valeria a pena.
Na quarta linha, trabalhei 6,4h e recebi R$5.500. Meu valor hora acabou ficando em R$859. Se tivesse cobrado por hora teria recebido R$1.792 invés de R$5.500. Ou seja, nesse projeto meu valor hora foi 3x maior que R$280. Conclusão: cobrar por hora não valeria a pena.
Na última linha, trabalhei pouquíssimo! Fui super eficiente e levei 4,5h pra resolver um trabalho grande. O orçamento era fechado de R$11.000, independente de quanto tempo trabalhasse de fato. Resultado: ganhei maravilhosos R$2.444 por hora! Se tivesse cobrado por hora, teria recebido R$1.260. No fim acabei recebendo quase 9x que se tivesse cobrado por hora! Conclusão: cobrar por hora não valeria a pena.
Aqui eu separei só 5 exemplos mas minha lista de registros é bem mais extensa e 90% dos casos eu constato que cobrando por hora teria ganhado menos.
Não estou dizendo que você nunca deve cobrar por hora. Existem momentos em que é inevitável. Aqui falo um pouco mais sobre esses casos em que você não sabe como cobrar e o valor hora acaba sendo a única saída. Mas tenha em mente que não é a melhor forma e pense em soluções que te tragam mais valorização e recompensa financeira. Tá tudo bem ganhar bem pelo seu trabalho bem feito. Eficiência e experiência tem um preço e você merece receber por isso.